List Of Contents | Contents of Lendas do Sul, by J. Somoes Lopes Netto
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padres. O nome de Angoéra, pagão, ficou sendo Generoso,
nome cristão.

E foi como cobra que deixa a casca...

Angoéra, que era triste, deixou a casca da tristura, e como
Generoso, nome bento ficou prazenteiro.

E ajudou a botar pedra no alicerce de todas as igrejas dos Sete
Povos. E durou anos, esse ofício!... E ele sempre risonho
e cantador.



Um dia, chamou o padre-cura, confessou-se e foi ungido
de óleo santo e morreu.

Generoso morreu contente, pois a cara do seu cadáver guardou ar de
riso; e foi muito chorado, porque tinha a estima de todos, por ser
mui prazenteiro e brincador.

De forma que a sua alma saiu-lhe do corpo, de jeito alegre; e então,
invisível, entrava nas casas dos conhecidos, passeava nos quartos e
salas, e para divertir-se fazia estalar os forros do teto e os
barrotes do chão, e também os trates novos, e os balaios de vime
grosso; e se achava dependurada uma viola, fazia sonar o
encordoamento, para alegrar-se com a lembrança das suas cantigas, de
quando era vivo e cantava...

Outras vezes assobiava nas juntas das portas e janelas, espiando por
elas os moradores da casa; e quando os homens, rodeavam a candeia,
pitando, ou as crianças, brincando, ou as donas costuravam ou faziam
nhanduti, o Generoso, — a alma dele, p’r’o caso — soprava
devagarzinho sobre a chama da luz, fazendo-a requebrar-se e
balançar-se, que para a sombra das cousas também mudar
de estar quieta...

E muitas vezes — até o tempo do Farrapos —, quando se dançava o
fandango nas estâncias ricas ou a chimarrita nos ranchos do
pobrerio, o Generoso intrometia-se e sapateava também, sem ser
visto; mas sentiam-lhe as pisadas, bem compassadas  no rufo das
violas... e quando o cantador do baile era bom e pegava bem de
ouvido, ouvia, e por ordem do Generoso repetia esta copla, que ficou
conhecida como marca de estância antiga: sempre a mesma...



“Eu me chamo Generoso,
“Morador em Pirapó:
“Gosto muito de dançar
“Co’as moças de paletó...”

.............................................................



*6*
*Mãe mulita*

— O tatu, mais a mulita,
— É lei da sua criação:
— Sendo macho, não pode ter irmã;
— Sendo fêmea, não pode ter irmão.
_(Cancioneiro Guasca.)_


Este bicho foi mandado ficar assim desde que o rei dos judeus mandou
matar duas mil crianças e a Virgem Maria fugiu para o Egito, para
salvar o Menino Jesus, fugindo num carro pequeno,
puxado por um burro petiço...

A certa altura do caminho a comitiva foi alcançada por uma comitiva
do rei, com ordem de matar o Menino e algemar seus pais; porém Nossa
Senhora, com os seus rogos e lágrimas conseguiu abrandar o centurião
que comandava; e deu-lhe de presente, o burro.

Depois a Virgem Maria e S. José, com muito custo, lá foram
empurrando o carro onde ia dormindo, muito sossegado, o Menino
Jesus. E foram andando... andando... andando...

A escolta já ia seguir seu caminho, de volta, porém parou, porque o
burro tinha-se empacado... Embalde o centurião chicoteou o animal;
depois bateu-lhe com o pau da lança; depois com a bainha do espadão;
nada!... o burro, sempre empacado!...

Os soldados todos, um por um, espancaram-no: o burro,
sempre empacado!...

Todos os soldados juntos e ao mesmo tempo, espancaram-no; o burro
sempre empacado!...

Então o centurião ficou furioso, dizendo-se enganado pela Virgem,
que lhe dera tão ruim animal. E resolveu perseguir e prender os
fugitivos, para seu castigo.

A Virgem e S. José não viram o que atrás deles se passava, somente
ouviam o rumor das pancadas que os soldados davam no burro e as
blasfêmias do centurião... E assustados, apuravam as forças,
empurrando o carrinho.

Então o Menino Jesus acordou-se e teve fome; mas com muito cansaço e
sofrimentos, o seio de Maria não apojou...

Ele chorava, de pesar... e o Menino pegou a chorar, de fome...

Nisto apareceu uma mulita e Nossa Senhora disse-lhe:

— Mulita, se tens filhos, dá-me uma gota do leite para o meu
filho!...

E a mulita parou-se e deu a gota de leite; mas era muito pouco
e o Menino continuou chorando, com fome...

Nossa Senhora chorou de pesar e tornou a dizer:

— Mulita, chama tuas filhas, para cada uma dar uma gota de leite
para o meu filho!...

— Senhora Virgem, respondeu a mulita, minha ninhada é grande, porém
nele as filhas são poucas...

E chamou as suas poucas filhas, e cada uma deu uma gota de leite
para acalmar a fome do Menino, que calou-se, farto.

Depois cada mulitinha tomou seu rumo, no deserto; só ficou
a mulita mãe, acompanhando.

Quando iam já muito longe, avistaram a escolta que vinha em
sua perseguição; e à frente, ameaçador, o centurião!...

Então a Virgem, muito aflita, disse:

— Mulita, dá-me a tua força, para puxar o carro do meu filho!...

E a mulita puxou; mas era tão pouca sua força, que o carro quase
nada adiantava.

E a escolta cada vez mais perto!...

E Nossa Senhora chorou, de medo, e tornou a dizer:

— Mulita, chama os teus filhos, para darem a sua força e correrem,
puxando o carro do meu filho!...

— Senhora Virgem, respondeu a mulita, a minha ninhada é grande,
porém nela os filhos são poucos...

E chamou os seus poucos filhos, que começaram a correr, puxando
o carrinho, do Menino Jesus...

E a escolta cada vez mais perto!...

Mas o carro, agora puxado pelos filhos da mulita ia
sempre andando depressa.

Mas os cavalos são maiores que as mulitas e por isso vencem mais
terreno... e já a escolta estava perto... perto..., quando levantou-
se um medonho temporal de areia, que obrigou e o centurião a
dispersarem-se entre gritos de raiva...

Então, quando viram que o Menino estava salvo, cada mulitanho tomou
seu rumo no deserto; só ficou a mulita mãe, acompanhando.

Então Nossa Senhora tornou a dizer:

— Mulita, em memória das gotas de leite das tuas filhas, em memória
da força dos teus filhos, deste dia em diante, de cada vez que deres
ninhada, será sempre ou só de fêmeas ou só de machos!...

E a mulita respondeu:

— Pois que assim seja a vossa vontade, Senhora Virgem! Porém eu
peço que ordeneis que o mesmo seja para a minha boa comadre, a
tatua...

— Pois será, também!

Então a mulita tomou seu rumo, no deserto, e foi levar a nova a sua
comadre tatua, que ficou muito contente...*

* O argumento destas duas lendas — 5, 6 — está desenvolvido
baseado na tradição longínqua, e é de notar a acomodação bizarra dos
elementos do seu entrecho.



*7*
*São Sepé*

“*Arroio	 S. Sepé* — no município de Caçapava; nasce a coxilha de
Babiroquá e deságua no Vacacaí. *Deve o nome, que lhe foi posto
pelos Jesuítas, ao célebre chefe índio José Tiaraiú, conhecido por
Sepé*, vencido e morto na batalha de 7 de fevereiro de 1756, no sopé
da Coxilha de Sta. Tecla, perto de Bagé.

Era à margem deste arroio que existia a sepultura do referido índio,
indicada por uma grande cruz de madeira, com uma inscrição — *meio
em latim, meio indiático* —, que quer dizer o seguinte:



† Em Nome de Todos os Santos †
No ano de Cristo Jesus de 1756
A 7 de Fevereiro
morreu combatendo
O grande chefe guarani Tiaraiú
em um sábado santo
† Subiu ao Céu dias antes do que †
o grande chefe da taba do Uruguai que morreu
em 10 de fevereiro em quarta-feira
combatendo contra um exército
de 15000 soldados.
† Aqui enterrado †
A 4 de Março
mandou levantar-lhe esta cruz
o padre D. Miguel
Descansa em paz
†



“Conforme a homenagem
prestada pelos Jesuítas
na inscrição e na
denominação do arroio, e
não havendo no calendário
católico santo de nome —
Sepé — temos de concluir
que as virtudes, o mérito
do grande chefe índio
foram forais para a sua
estranha — canonização —
no entretanto perdurável e
popularizada.

Foi sob tal aspecto que
recordamos aqui este curioso fato
........................”
_(Cancioneiro Guasca)_.

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*O Lunar de Sepé*


Eram armas de Castela
Que vinham do mar de além;
De Portugal também vinham
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz não vem!


Mandaram por serra acima
Espantar os corações;
Que os Reis Vizinhos queriam
Acabar com as Missões,
Entre espadas e mosquetes
Entre lanças e canhões!...


Cheiravam as brancas flores
Sobre os verdes laranjais;
Trabalhavam-se na folha
Que vem dos altos ervais;
Comia-se das lavouras
Da mandioca e milharais.


Ninguém a vida roubava
Do semelhante cristão
Nem a pobreza existia
Que chorasse pelo pão;
Jesus Cristo era contente
E dava sua benção...


Por que vinha aquele mal,
Se o pecado não havia?
O tributo se pagava
Se o vizo-rei pedia,
E, até sangue  se mandava
Na gente moça que ia...


Eram armas de Castela
Que vinham do mar de além;
De Portugal também vinham,
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz não vem!


Os padres da encomenda
Faziam sua missão:
Batizando as criancinhas,
E casando, por união,
Os que juntavam os corpos
Por força do coração...


Do sangue dum grão Cacique
Nasceu um dia um menino,
Trazendo um lunar na testa,
Que era bem pequenino:
Mas era — cruzeiro — feito
Como um emblema divino!...


E aprendeu as letras feitas
Pelos padres, na escritura;
E tinha por penitência,
Que a sua própria figura
De dia, era igual às outras...
E diferente, em noite escura!...


Diferente em noite escura,
Pelo lunar do seu rosto,
Que se tornava visível
Apenas o sol era posto;
Assim era — Tiaraiú —,
Chamado — Sepé, — por gosto.


Eram armas de Castela
Que vinham do mar de além;
De Portugal também vinham
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz não vem!


Cresceu em sabedoria
E mando dos povos seus;
Os padres o instruíram
Para o serviço de Deus
E conhecer a defesa
Contra os males do ateus...


Era moço e vigoroso,
E mui valente guerreiro:
Sabia mandar manobras
Ou no campo ou no terreiro;
E na cruzada dos perigos
Sempre andava de primeiro.


Das brutas escaramuças
As artes e artimanhas
Foi o grande Languiru
Que lh’ensinou; e as façanhas,
De enredar o inimigo
Com o saber das aranhas...


E, tudo isto, aprendia;
E tudo já melhorava,
Sepé — Tiaraiú, chefe
Que o Sete Povos mandava,
Escutado pelos padres,
Que cada qual consultava.


Eram armas de Castela
Que vinham do mar de além;
De Portugal também vinham
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz não vem!


E quando a guerra chegou
Por onde os Reis de além,
O lunar do moço índio
Brilhou de dia também,
Para que os povos vissem
Que Deus lhe queria bem...


Era a lomba da defesa,
Nas coxilhas de I-bagé,
Cacique muito matreiro
Que nunca mudou de fé;
Cavalo deu a ninguém...
E a ninguém deixou de a pé...


Lançaram-se cavaleiros
E infantes, com partazanas,
Contra os Tapés defensores
Do seu pomar e cabanas;
A mortandade batia,
Como ceifa de espadanas...


Couraças duras, de ferro,
Davam abrigo à vida
Dos muitos, que, assim fiados,
Cercavam um só na lida!...
Um só, que de flecha e arco,
Entra na luta perdida...


Eram armas de Castela
Que vinham do mar de além;
De Portugal também vinham
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz não vem!


Os mosquetes estrondeam
Sobre a gente ignorada,
Que, acima do seu espanto,
Tem a vida decepada...;
E colubrinas maiores
Fazem maior matinada!...


Dócil gente, não receia,
As iras de Portugal:
Porque nunca houve lembrança
De haver-lhe feito algum mal:
Nunca manchara seu teto...;
Nunca comera seu sal!...


E de Castela tampouco
Esperava tal furor;
Pois sendo seu soberano,
Respeitara seu senhor;
Já lhe dera ouro e sangue,
E primazia e honor!...


A dor entrava nas suas carnes...
Na alma, a negra tristeza,
Dos guerreiros de Tiaraiú,
Que pelejavam defesa,
Porque o lunar divino
Mandava aquela proeza...


Eram armas de Castela
Que vinham do mar de além;
De Portugal também vinham
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz não vem!


E já rodavam ginetes
Sobre os corpos dos infantes
Das Sete Santas Missões,
Que pareciam gigantes!...
Na peleja tão sozinhos...
Na morte tão confiantes!...

Mas, o lunar de Sepé
Era o rastro procurado
Pelos vassalos dos Reis,
Que o haviam condenado:...
Ficando o povo vencido...
E seu haver... conquistado!


Então, Sepé, foi erguido
Pela mão do Deus — Senhor,
Que lhe marcara na testa
O sinal do seu penhor!...
O corpo ficou na terra...
A alma, subiu em flor!...


E subindo para as nuvens,
Mandou aos povos — benção!
Que mandava o Céus — Senhor
Por meio do seu clarão...
E o — lunar — da sua testa
Tomou no céu posição...


Eram armas de Castela
Que vinham do mar de além;
De Portugal também vinham
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz não vem!


Esta melopéia (?), ouvi-a em 1902, sofrivelmente recitada por uma
velhíssima mestiça — Maria Genoria Alves — moradora na picada que
atravessa o rio Camaquã, entre os municípios de Cangussu
e Encruzilhada.

Aparte as deturpações aberrantes dos vocábulos e a difícil
colocação, concatenada dos versos, conservei a forma original,
difusa, opaca e, do mesmo passo ingênua e amorável, dentro da qual
porém, sente-se que estremece uma idealização, tendente a aureolar a
figura do chefe índio, superiorizando-a por um signo misterioso — o
lunar —, mandado divino...

Deixei de parte alguns versos cujo sentido disforme e expressão eram
de impossível entendimento e acomodação neste grupo. Relembrança
popular do heróico guarani é esta (e procedência?...) a única que
até hoje hei encontrado em não pequena perambulação.



*8*
*O Caapora*


É um espírito com forma de homem, gigante, peludo e muito tristonho,
que comanda as varas de porcos do mato e anda sempre montado
sobre um deles.

Quem topar com o Caapora daí em diante arrastará consigo a
infelicidade (caiporismo), para todo o resto da sua vida;
se era bom torna-se mau caçador, pescador; dará topadas no caminho,
espinhar-se-á nas roçadas, perderá objetos,
andará atrasado, apoquentado...

Os animais domesticados também sentem a sua má influência, e
entecarão, terão gogo, sofrerão bicheiras... No entanto o Caapora
protege a caça bravia dos matos.



*9*
*O Curupira*


É o espírito malfazejo do mato, que enreda os trilhos do caminho
para enganar os andantes e sugar-lhes o sangue.

Andam sempre em casal e moram no oco dos paus de lei; aparecem
de repente, fazem os seus embustes e escondem-se, à tocaia,
rindo-se em silêncio.

O Curupira é como um tapuio pequeno; tem os dentes verdes
e os pés colocados às avessas.

Quando perseguido pelo curupira, o melhor meio de fugir-lhe é
atirar-lhe e ir deixando pelo caminho cruzes e rodilhas de cipó,
entrançadas; ele entretém-se a examinar o achado e a destrançá-lo,
e enquanto isso, o perseguido escapa-se.



*10*
*O Saci*


Era um  caboclinho, dum pé só, muito ágil, que saltava na garupa dos
cavalos dos viajantes. Gostava das picadas e das encruzilhadas das
estradas sombreadas. Outros diziam que o Saci, apenas era manco de
um pé e tinha uma ferida em cada joelho; que usava um barrete feito
das _marrequinhas_ (flores da corticeira), e que era ele que
governava as moscas importunas, as mutucas, os mosquitos.



*11*
*A Oiára*


“A Oiára — ou Mãe-d’água — é um demônio macho-fêmea dos rios. É um
tapuio ou tapuia de rara beleza, morador do fundo dos rios ou lagos,
e que fascina aquele que cai em seu poder, induzindo a pessoa
fascinada a lançar-se n’água. O indivíduo fascinado pelas Oiáras, se
não chega afogar-se, ao ser retirado da água, declara ter visto
palácios encantados, no fundo do rio, tendo sido acompanhado nesse
passeio por uma bela mulher (se é homem, e por dois
belos tapuios se é mulher).

Ao voltar à terra as Oiáras o soltam e de novo vão para o rio, mas
deixando em seu lugar pequenos tapuios para guardar o enfermo. Estes
pequenos tapuios devem impedir que outros espíritos
se apoderem da vítima.”



*12*
*O Jurupari*


É um espírito mau, que à noite aperta a garganta das crianças e até
dos homens, para trazer-lhes aflição e maus sonhos, principalmente
por haverem comido muito antes de se deitarem. É ele que faz
o _pesadelo_ nas criaturas.



*13*
*O Lobisomem*


Diziam que eram homens que havendo tido relações com as suas
comadres, emagreciam; todas as sextas-feiras, alta noite, saíam de
suas casas transformados em cachorro ou porco, e mordiam as pessoas
que tais desonras encontravam; estas por sua vez ficavam sujeitas a
transformarem-se em lobisomens...



*14*
*A Mula sem cabeça*


Diziam que as mulheres de má vida, relacionadas com padres, se
transformavam, tarde da noite, em mula, sem cabeça, e conduzindo na
cauda um facho de fogo, que nenhum vento ou chuva apagava antes de
romperem as barras do dia...



*15*


A lenda referente aos — enterros — (dinheiro, jóias, baixelas
enterradas) tem a sua origem na crença das almas do outro mundo —
os espíritos — “A alma de quem morreu sem deixar notícias do
dinheiro que tinha escondido ou guardado em tal e tal lugar, anda
penando. As luzes azuladas que se observam de noite nos campos e em
redor das povoações, que volteiam e afinal se desvanecem,
não são senão almas penadas.

“Só quando um cristão descobrir o — enterro — é que hão de cessar
de  aparecer e de penar”

Se o — enterro — está da habitação ouve-se ruídos, pancadas,
gemidos... são as casas — mal assombradas. —


***


A lenda da — Lagoa brava — é apenas uma variante da dos Serros
bravos e tem a sua contextura na da Oiára. A da lagoa do Iberá, bem
como a dos salamanqueiros, do nhandu — tatá e outras, são mais do
acervo rio-platense-andino.


***


Há ainda, de formação local, muitas  _histórias_ ingenuíssimas e
curiosas, tais como a dorme-dorme (ave vespertina); porque a pomba
não sabe fazer seu ninho; porque a capivara é rabona (sem cauda); a
do anu, ladrão do ninho alheio; a do João barreiro, e outras muitas,
para adormecer crianças...*

* O argumento das lendas desta série — 8, 14 — consta do livro —
Cancioneiro Guasca — do autor. (Edit. Echenique & C. — 1910) A sua
versão e influência correram, aliás mui fracamente entre as gentes
antigas da campanha rio-grandense.







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